O nome completo do grande humorista de rádio Nhô Totico é Vital Fernandes da Silva. Ele nasceu no interior de São Paulo, na cidade de Descalvado, em 1903. Era o último dos seis filhos da italiana Adelina Mandelli da Silva e do baiano João Fernandes da Silva. O pai de Nhô Totico era um apaixonado por música e ele próprio fazia alguns de seus instrumentos musicais. Em sua casa havia, além de piano, harpa , saxofone, clarinete, requinta, violão, bandolim, flauta, violino e até um celo(violaoncelo) de fabricação caseira. ” Mas ele era realmente um virtuose no violão, que, embora canhoto, tocava como destro”, dizia Vital, sobre seu pai.
Para melhorar seu dinheirinho, João Fernandes se empregou na sala de cinema local, e acompanhava as sessões de cinema mudo . Começou a produzir os sons, ao lado de um grupo de amigos. Tinha a regência de Totó, que naquele tempo era o apelido de Totico. Quando Totico estava com 10 anos, veio com a família para a capital paulista. Logo depois ele foi apresentado aos frades do Convento de São Francisco, instituição localizada no Largo de São Francisco, ao lado da Faculdade de Direito. Vital começou a tomar conta das atividades culturais da instituição e elas rendem um dinheirinho para os frades. Logo então o garoto comprou um projetor de cinema e criou o jornal: ” Mensageiro da Paz”.
Mas , para se sustentar, Vital conseguiu um emprego na Repartição de Águas e Esgotos, que ficava bem perto do Largo São Francisco, na rua Riachuelo, esquina de Brigadeiro Luiz Antônio. Mas seu desejo de ser artista continuava forte……e ele conheceu os irmãos Fontoura, Dirceu e Olavo, filhos do dono do laboratório Fontoura, também apaixonados por rádio e que mantinham no ar uma emissora clandestina. Eles a chamavam: ” DKI, A Voz do Juqueri”. Esse nome logo, por reclamações dos doentes psiquiátricos do Instituto Juqueri, foi mudado. Vital Fernandes fez testes, mas não passou. Foi à Rádio Educadora Paulista, onde também se excedeu ao contar uma piada e foi reprovado. Foi pelas mãos de Enéas Machado de Assis, estudante de Direito e radialista, que Nhô Totico, já então com esse nome, foi trabalhar com os irmãos Fontoura.
Estes, por fim, colocaram mãos à obra e ergueram, na avenida São João, aquele que viria a ser o “Palácio do Rádio”, pois o prédio era de seis andares e possuia um teatro com 400 lugares. Ele foi inaugurado em 1939. Foi ali que nasceu o Nhô Totico e onde ele criou o programa: “XPTO-Vila de Santo Antônio de Arrelia” e mais tarde o programa: “Escolinha da Dona Olinda”.
Inacreditavelmente, Nhô Totico fazia seus programas inteiramente de improviso e sozinho, na escolinha, imitava uma dezena de alunos, com vozes, trejeitos, manias diferentes. Aproveitou para colocar os tipos mais importantes da capital paulista, que graças à imigração, que foi farta no começo do século vinte, se constituia de: um italiano, um sírio, um espanhol, um nordestino, um preto velho, com suas crendices, que era o zelador, a dona Olinda, a professora, e vários outros. Como dizia Nhô Totico: “Meu programa é como pastel de de chinês: feito na hora e comido quentinho”. Nunca escreveu nada.
Uma coisa a ser notada, é que a formação católica de Nhô Totico sempre se fez presente. Seu foco era educar as crianças através das brincadeiras e da arte. Era socializar e passar boas lições. Em breves licenças em seu emprego público, na repartição, Nhô Totico fez várias viagens e pequenas temporadas em emissoras de rádio de vários estados do Brasil. Ele teve ainda o programa: ” Chiquinho, Chicote e Chicória”.
Em 1950, Vital ganhou o prêmio” Roquete Pinto”com Maior Artista Brasileiro.
Não há registros sonoros de seus programas. E aos poucos ele vai sendo esquecido, embora tenha sido o maior humorista e criador de tipos de todos os tempos.
Nhô Totico faleceu em 4 de abril de 1996, com 93 anos de idade.