Na capital carioca aconteceu, de 09 a 14 de outubro de 2017, o RioMarket, evento relacionado ao Festival do Rio, relacionado à cinema. No dia 11 de outubro, às 16 horas, a telenovela brasileira foi tema do evento, que aconteceu no Hotel Gran Meliá Nacional Rio, em São Conrado.
O doutor em teledramaturgia pela USP e consultor da Globo, o Prof. Dr. Mauro Alencar, falou sobre a importância da Literatura e do Teatro na formação da moderna teleficção brasileira. E, por outro lado, a contribuição da telenovela e das minisséries na divulgação da literatura nacional.
Uma das curiosidades – e já que estamos num Festival de Cinema – foi um vídeo que apresenta contraponto entre a novela A Sucessora, o romance de Carolina Nabuco e o filme Rebeca, A Mulher Inesquecível, de Alfred Hitchcock, em conjunto com romance inglês de Daphne du Maurier. Além disso, matéria sobre a mitológica Escrava Isaura produzida pela Globo em 1976.
No mesmo vídeo, um panorama sobre diversas produções inspiradas em obras teatrais e literárias; além de um quadro sintético das origens da Literatura na TV até os dias atuais com sucessos como Amores Roubados e Dois Irmãos.
Literatura e Teatro: Fontes inspiradoras da moderna teleficção brasileira
A origem da telenovela está intimamente ligada à literatura. Desde os folhetins franceses até a influência de estilos como o romantismo e o modernismo, tudo serviu de base para a formação desta narrativa televisual. Ela retira da literatura suas temáticas, personagens e técnicas por meio de adaptações ou livre inspirações. O diálogo entre literatura e telenovela é forte até hoje e constantemente alimenta a produção televisiva.
Se, nos primórdios, as razões para que a telenovela buscasse na literatura seus temas estavam na escassez da mão de obra qualificada para a escrita televisiva, foi a partir da década de 1970, com a modernização e industrialização promovidas pela TV Globo no gênero da teleficção em geral, que a literatura (incluindo a dramática) passou a ser elemento chave para a argamassa constitutiva da rica teledramaturgia nacional. Um rito de passagem como fonte inspiradora da Moderna Telenovela Brasileira e da tele ficção como um todo.
De Medeia, de Eurípides, e Romeu e Julieta, de Shakespeare, passando por Morte e Vida Severina, de João Cabral de Melo Neto, até O Bem-Amado, de Dias Gomes, e A Escada com Os Ossos do Barão, de Jorge Andrade. De A Dama das Camélias, de Alexandre Dumas Filho, alcançando O Tempo e O Vento (Erico Verissimo) e Grande Sertão: Veredas (Guimarães Rosa) à AmoresRoubados (A Emparedada da Rua Nova, de Carneiro Vilela). De Helena (Machado de Assis), Senhora (José de Alencar), A Moreninha (Joaquim Manuel de Macedo), Escrava Isaura (Bernardo Guimarães), Gabriela, Cravo e Canela e Tieta do Agreste (Jorge Amado), Ciranda de Pedra (Lygia Fagundes Telles), chegando em Êta Mundo Bom! (Inspirado em Voltaire e Monteiro Lobato); seguem a literatura e o teatro como seiva inspiradora para os vastos e imensos bosques da ficção televisiva, consumida diariamente por uma plateia ávida de emoções, identificações, projeções. No ir e vir da literatura e do teatro em confluência antropofágica com a telenovela, minisséries e séries, as seculares expressões artísticas retornam ao público amplificadas pela potência da mídia eletrônica. Renovadas por novas linguagens e em conjunto com a telenovela, mantêm a essência que é a de retratar a ação do homem no tempo e no espaço.
A moderna Telenovela brasileira (e seus derivados como as minisséries) – catalisadora de expressões literárias e teatrais – segue em seu desenvolvimento artístico e social de maneira autônoma, como produto da estética do contemporâneo audiovisual e, a despeito de nossa individualidade, nos faz sentir parte de um todo. Afinal, literatura, teatro e telenovela representam um mesmo registro que busca, de um modo ou de outro, iluminar os intrincados labirintos do comportamento humano.