No inicio da nossa televisão as próprias emissoras entregavam às agências suas estimativas de audiência. Eram obtidos a partir de uma estranha combinação de dados sobre o número de aparelhos vendidos e a assertiva de que havia de 15 a 20 telespectadores por receptor. Sem considerar uma variável óbvia: se o aparelho estava ligado ou não.
O panorama precisava mudar, mesmo havendo só quatro emissoras de televisão e cerca de 25 mil aparelhos de tv (18 mil em São Paulo). Foi quando o Ibope, Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística, em abril de 1954, fez sua primeira pesquisa de audiência, realizada no padrão coincidental call, o flagrante domiciliar, que o mesmo Ibope já usava desde 1942 para o rádio.
E aconteceu o esperado: as pesquisas do Ibope não agradaram aos proprietários das emissoras, pois ficava claro que o novo veículo ainda não tinha audiência, se comparado à Rádio Nacional, que atingia todo o Brasil pelas ondas curtas, ou às revistas Cruzeiro e Manchete.
Mas o meio publicitário estava interessado em crescer a nova mídia e lançaram o conceito de audiência qualificada. Incorporou-se a palavra target e aos poucos os boletins mensais com os índices de audiência da programação viraram uma rotina.
A partir dai nunca mais os profissionais da tv deixaram de considerar a questão nas suas decisões. A tal ponto que Sivio Santos levou a preocupação ao extremo e num gesto de ousadia e ironia fez, na década de 70, um programa levado ao ar pela TV Tupi e sua rede chamado ‘Sua Majestade o Ibope”.
Além do sucesso dominical pela Globo, toda quinta à noite, comandava o programa na Tupi. Nessa atração ele reunia representantes de diferentes classes sociais, seguindo o modelo do instituto de pesquisa, para julgarem um cardápio de atrações. Em 2 horas de exibição Silvio usava uma amostra da audiência como um júri diferenciado.
M.A.Z. / 31-07-16